No próximo domingo, dia 30 de outubro, às 2:00 da manhã, teremos de atrasar uma hora os nossos relógios. Uma mudança que se tornou numa rotina e que tem mais efeitos do que se possa imaginar a priori.
A mudança da hora foi introduzida pela primeira vez de forma generalizada durante a Primeira Guerra Mundial. Esta medida foi tomada para poupar carvão, que era um mineral fundamental para iluminar as fábricas de armamento. A 30 de abril de 1916, ficou decidido avançar o relógio das 23:00 para as 00:00. Em meados da Primavera, amanhecia cada vez mais cedo. Adiantar a hora permitia ganhar uma hora de luz natural à tarde. Era assim que este valioso carvão era poupado.
Mais de meio século depois, em 1974, e na sequência da crise do petróleo, alguns países europeus começaram a implementar a mudança da hora para poupar combustível. Mas só em 1980 é que a Comunidade Económica Europeia decidiu implementar esta medida no Velho Continente.
Durante o ano, fizemos duas alterações de horários. A primeira em março, em que se adianta a hora. A segunda em outubro, em que se atrasa uma hora e voltamos ao nosso horário natural. Desta forma, tenta-se que a maior parte da população comece o seu dia de trabalho quando fica de dia.
Os países tropicais não costumam realizar esta medida, uma vez que, estando perto do equador, a duração dos dias é praticamente a mesma durante todo o ano, pelo que fazer a mudança da hora não faz sentido.
Em 2018, a União Europeia propôs a eliminação da mudança horária, mas ainda há países como a Espanha que continuam a mudar o relógio de seis em seis meses.
Ritmo circadiano e ritmo biológico
Para entender melhor como a mudança da hora nos afeta, é necessário explicar dois conceitos muito importantes: o ritmo circadiano e o ritmo biológico.
O ritmo circadiano tem que ver com as mudanças físicas, mentais e comportamentais que o corpo sofre num ciclo de vinte e quatro horas. Estas mudanças são fortemente influenciadas pelas horas de luz do dia e de escuridão.
Se a relacionarmos com o ritmo biológico, a mudança da hora é uma decisão arbitrária, um processo não natural; contudo, todos os seres humanos têm os seus ritmos biológicos. Quando criamos uma rotina, um dos fatores mais importantes é o sono. Com base nesta rotina, geramos automatismos e horários segundo os quais nos levantamos da cama, tomamos o pequeno-almoço, vamos trabalhar, almoçamos… Isto é o que se chama o ritmo biológico ou biorritmo. Ao habituarmo-nos a fazer as nossas tarefas a uma determinada hora do dia, o nosso corpo estará preparado para “funcionar” nessa altura específica. Por outras palavras, se estivermos habituados a acordar às 8:00 da manhã, mesmo que atrasemos o relógio uma hora – as 8:00 passam a ser 7:00 –, o nosso organismo tenderá naturalmente a acordar às 7:00 da manhã e não às 8:00 no novo horário, pelo que estaremos a “ganhar” uma hora de tempo no dia.
Os problemas da mudança horária
Alguns países decidiram deixar de implementar a mudança da hora. O seu argumento é que a poupança de energia é quase nula; por outro lado, tem um efeito negativo nos ritmos diários da vida dos cidadãos.
As funções dos órgãos humanos mais importantes dependem da secreção de cortisol e melatonina, duas hormonas que estão relacionadas com os ciclos de vigília e sono. A mudança horária pode levar a alterações na secreção destas hormonas, de modo que algumas pessoas sofrem de uma dessincronização entre os ritmos internos e ambientais.
Este desequilíbrio afeta o nosso descanso. Podemos sentir-nos um pouco mais cansados durante os primeiros dias, como se estivéssemos a sofrer de uma espécie de jet lag, embora menos pronunciado do que o que poderíamos sentir numa viagem transoceânica. É normal que, durante os dias de adaptação ao novo horário, nos sintamos um pouco sonolentos e que a nossa capacidade de concentração e de atenção diminua. De acordo com estatísticas compiladas pelo canal de televisão La Sexta, na primeira segunda-feira após a mudança da hora – que tem lugar na madrugada de sábado para domingo – há um aumento do número de acidentes de trânsito.
Também pode originar mal-estar geral e perturbações do estado de espírito. Quando a hora atrasa, uma parte da população pode sentir uma certa quebra de energia. Quando adianta, aparecem reações tais como nervosismo ou irritabilidade e mau humor.
As crianças e os idosos são os mais sensíveis à mudança da hora.
Conselhos para lidar com a mudança da hora
Como se trata de uma mudança curta, de apenas uma hora, a adaptação é rápida e o organismo pode habituar-se ao novo ritmo num período que vai de três a sete dias.
Para acelerar a adaptação, pode seguir estas recomendações:
- Vá para a cama um pouco mais cedo.
- Substitua a sesta por um pouco de exercício físico.
- Nos cinco ou seis dias antes da mudança, adiante ou atrase as suas refeições dez minutos por dia.
- Evite refeições pesadas que dificultem a digestão.
- Evite as fontes de luz artificial no quarto, incluindo, evidentemente, ecrãs de telemóveis.
- Além disso, não é aconselhável tomar medicamentos para conciliar o sono.
Ainda não sabemos até quanto continuaremos a aplicar a mudança da hora. Seja como for, descanse e aproveite ao máximo os seus dias.