A consciência plena transforma a sua vida
Os seus pensamentos não são a realidade.
Centramos a nossa identidade na cabeça: vemo-nos a nós próprios de acordo com o que planeamos, organizamos, recordamos, acreditamos, sonhamos, avaliamos, julgamos, etc. Como dedicamos tanto tempo a pensar, confundimos frequentemente as nossas ideias com a realidade, acreditando que o mapa é o território. A prática de Mindfulness é uma nova forma de nos relacionarmos com os pensamentos que implica o desenvolvimento da capacidade de os reconhecer pelo que são: acontecimentos ou processos mentais pontuais e observáveis.
Os pensamentos não são a realidade. Não somos os nossos pensamentos
A mente percebe todo o tipo de pensamentos. Como objetos da mente, e talvez porque são imateriais e internos, é mais provável que sejam confundidos com quem somos. Os pensamentos de autoavaliação são particularmente sedutores e convincentes. Aparecem na mente disfarçados de verdade absoluta: “Não presto para nada”, “Desapontei as pessoas”, “Não tenho emenda”… Mergulhamos neles e separamo-los de outros comentários internos como se fossem verdades com autoridade.
Tomamos qualquer juízo de valor sobre nós próprios como uma verdade absoluta. É precisamente por isso que o reconhecimento de que os pensamentos não são a realidade pode trazer-nos uma grande paz emocional.
Dependendo do seu grau de elaboração, os pensamentos podem ir de simples movimentos rápidos da energia da mente a pensamentos diferenciados e até mesmo devaneios elaborados. Não há nada de intrinsecamente negativo nisto. O problema surge quando desconhecemos o nosso próprio processo de pensamento e involuntariamente nos entregamos a pensamentos que dão origem a julgamentos negativos, medos, autocrítica, raiva, preocupação, desconfiança e outras emoções que sabotam a paz de espírito e o equilíbrio emocional.
A prática de Mindfulness não implica gerar pensamentos voluntariamente, controlá-los nem manipulá-los. Pelo contrário, implica estar consciente dos pensamentos como pensamentos, deixando-os surgir e desaparecer sem os reter nem rejeitar. A consciência existe naturalmente, mas pode passar despercebida durante uma vida inteira, pelo que necessita de ser explorada e conhecida experimentalmente.
À medida que se torna mais familiarizado com a sua consciência, aperceber-se-á que se pode tornar o seu derradeiro refúgio, um lugar natural de equilíbrio para a mente e o coração, com uma capacidade ilimitada de se encontrar com a experiência e abraçá-la.
Mindfulness, a meditação e os pensamentos
Uma das diferenças mais subtis e importantes entre a mente meditativa e a mente comum consiste no facto de ter ou não consciência de estar a pensar quando se está a pensar. Isto não implica de forma alguma que o pensamento não deva surgir. De facto, a ideia de tentar alcançar um estado em que não existam pensamentos é o maior obstáculo encontrado pelas pessoas que iniciam a prática da meditação.
Os pensamentos não só não são obstáculos à meditação, como são seus aliados. Quando aparecem durante a prática, temos a oportunidade de explorar em detalhe como funciona a nossa mente pensante, de descobrir que tipo de pensamentos tem uma forte influência sobre a nossa mente e de descobrir como nos prendemos a eles. Só tendo pensamentos é que podemos começar a sentir a diferença entre pensar sabiamente e ficar completamente perdidos no pensamento.
Meditar é trazer a consciência para o processo de pensar e para os pensamentos como objetos da mente. A meditação consiste em manter a consciência clara do processo do pensamento, o que nos permite perceber os pensamentos pelo que realmente são – eventos mentais – em vez de os tomarmos como algo real e sólido. Ao reconhecermos que um pensamento é um pensamento, começamos a ver a sua transparência, a sua fluidez e a sua relatividade.
Quando deixamos de estar presos ou perdidos neles, podemos recuperar o poder que lhes tínhamos cedido involuntariamente e estamos numa posição melhor para prevenir ou remediar o desequilíbrio emocional. Ao praticar Mindfulness dos pensamentos, prestamos atenção, por assim dizer, ao contorno do pensamento mais do que ao seu conteúdo. Não importa o que o pensamento contenha, simplesmente observamo-lo como um pensamento.
Com o tempo, o volume e a intensidade do fluxo de pensamentos que flui na mente (chamado pensamento discursivo) diminuem, criando, assim, mais espaço e energia para a compreensão e criatividade. Tanto a diminuição da intensidade e da frequência do pensamento discursivo como a aprendizagem de não acreditar em tudo o que os pensamentos dizem reduzirão a probabilidade de ficar preso a emoções difíceis (que normalmente se alimentam de pensamentos) e ajudá-lo-ão a recuperar mais rapidamente quando estiver preso na confusão emocional.